15 de agosto de 2011

REPORTAGEM DO JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO SOBRE TRICÔ


A Flavia postou o link da reportagem lá no Facebook, no nosso grupo "Tricô e Receitas". Gostei do chamado da Flavinha: "Olha lá a onda virando tendência". Curti!!!! rsrsrs

Folha de São Paulo - 14.08.2011:

Jovens paulistanas aderem à mania das lãs

CHRIS CAMPOS
DE SÃO PAULO

Saem os cabelos brancos, a cadeira de balanço, as lãs em cores pastéis. Entram os blogs, os fios metálicos e as moças entre 25 e 40 anos com cabelos e roupas da moda. São essas as diferenças que permitem dizer que há, na cidade, uma nova geração de tricoteiras, que nos últimos anos despertou a atenção de fabricantes e vendedores.
Intríseca à imagem clássica da avó, a atividade tem atraído jovens mulheres por três principais motivos. Umas defendem o resgate de trabalhos manuais em geral, o que também inclui cozinhar e jardinar --atos considerados terapêuticos. Outras encontram motivação na moda. Desfilar por aí com peças exclusivas, feitas sob medida, é uma compensação que, dizem, vale as horas dedicadas às agulhas.
E há as que encaram o tricotar como uma transgressão contra o consumismo desenfreado, o que lembra o movimento DIY ("do it yourself", ou "faça você mesmo"), encampado pelos punks nos anos 1970 e 80. A publicitária Andrea Onishi, 36, faz parte do primeiro grupo. Com vontade desde criança de aprender a tricotar, ela foi atrás de livros, tutoriais (passo a passo) e vídeos na internet. Aprendeu tanto que virou referência.
Há seis anos, Andrea montou o blog Superziper, voltado para manualidades, com destaque para o tricô. Atualmente, a página é acessada por cerca de 4.000 pessoas todos os dias. A internet, para essa nova turma de tricoteiras, é um acessório tão fundamental quanto agulhas e lãs.

SÓ EU TENHO
Para que suas bonecas tivessem roupas exclusivas, Cristiane Bertulucci, 27, foi tricotar com a avó paterna quando tinha nove anos. Hoje, é estilista e professora. "O tricô, para mim, tem a ver com aversão ao massificado e com buscar algo diferente para vestir e que tenha algum valor sentimental", diz ela, que dá aulas particulares, para grupos e até para crianças.
Cristiane também é uma das fundadoras do coletivo Tricotarde, que reúne jovens apaixonadas por novelos e promove intervenções urbanas, como envolver árvores com peças feitas de lã. "Vestimos uma das árvores do parque Trianon [na av. Paulista], mas não durou muito. Logo mandaram tirar nosso trabalho de lá."
Espalhar o tricô pela cidade é uma das diferenças em relação às tricoteiras tradicionais. A nova geração também usa cores e pontos distintos. No grupo de 15 senhoras liderado pela professora Sonia Biondi, 72, os tons pastéis são os preferidos. As veteranas, que se reúnem semanalmente, gostam de "rosinha", "verdinho", "azulzinho", tons que combinam com roupas para bebês, as peças mais confeccionadas por elas. Também fazem sucesso pontos mais elaborados, como tranças, e flores de crochê, para enfeitar boleros e cachecóis.
Entre as mais novas, as cores são mais escuras e quentes e as lãs, mais grossas. "As tricoteiras modernas preferem pontos largos porque ficam prontos mais rapidamente. Em uma tarde você consegue começar e terminar um trabalho", diz Cristiane.

NOVOS RUMOS
O mercado de lãs já percebeu que algo está mudando. Fios mais grossos, com efeitos especiais e cores da estação estrearam nas prateleiras nos últimos invernos. "Elas [as mais jovens] começam a influenciar os hábitos das veteranas", explica Juliana Bueno, gestora de marketing da Pingouim, uma das maiores fabricantes de lãs do país. "Uma das nossas linhas mais tradicionais, a Flash, acaba de ganhar uma nova tabela de cores por conta dessa mudança de comportamento."
Outra marca, a Aslan Trends, também está de olho. Segundo Marina Pontieri, do time de estilo da empresa, esse novo perfil ganha força e tem a internet como principal fonte de divulgação da mania entre as modernas. Para agradá-las, a marca lançou neste ano uma lã com brilho metálico. Também neste inverno, a Vila Madalena, na zona oeste, ganhou seu primeiro café dedicado ao tricô. Na Novelaria Knit, inspirada em espaços europeus e americanos, onde o tricô é febre entre os jovens há alguns anos, é possível beber vinho, tomar sopas e comprar lãs importadas da Argentina.
"Há um ano, eu e minha sócia idealizamos um lugar de convivência, de troca, parecido com alguns que visitamos na Califórnia", conta a empresária Lica Isak. "A ideia é ir além do armarinho do bairro e oferecer um programa mais completo." De segunda a sábado, são ministrados ali quatro tipos de aula em 18 horários diferentes. Além de trabalhar as mãos, o tricô também ocupa a mente. Foi assim para a designer gráfica Luciane Kras. Quando se mudou para Nova York, há cinco anos, por causa do trabalho do marido, ela decidiu que era hora de buscar mais qualidade de vida. Resolveu, então, frequentar as aulas de tricô do Fashion Institute of Technology.
"Vinha de uma rotina insana de trabalho e esse período de pausa foi importante para eu ver o que realmente queria", diz ela, que fez o curso durante três meses. De volta a São Paulo, o tricô virou vício. Ela carrega o kit para todos os lugares e pratica enquanto conversa com os amigos. Já produziu casacos, vestidos e golas gigantes para o próprio guarda-roupa e sempre recebe encomenda de amigas. Costuma trocar truques de pontos usando fotos feitas com o iPhone.
Outro benefício mental citado pelas jovens tricoteiras é aprender a lidar com as imperfeições. "Você percebe o erro em um ponto, mas sabe que sempre pode desmanchar e começar tudo de novo. Ou, então, ignorar e aceitar que aquilo faz parte do trabalho", diz a produtora cultural Melina Valente, 37. "Ter um projeto de tricô ou crochê nas mãos significa estar produzindo algo. Isso é muito poderoso", afirma ela, que frequenta os encontros do grupo Tricotarde, que ocorrem um sábado por mês no espaço Cartel 011, em Pinheiros, na zona oeste, cuja programação mistura arte, música e moda.
Tricotar, bordar ou fazer crochê é também uma maneira de manter vivo um conhecimento que corre o risco de se perder no tempo. Foi com essa intenção que as amigas Flávia Lhacer, 27, e Vanessa Rozan, 31, criaram o Clube do Útero. Ainda restrito a uma página na internet (www.clubedoutero.blog
spot.com), o movimento quer oferecer workshops de trabalhos manuais. Suas fundadoras planejam a abertura de um espaço para os encontros, provavelmente no Baixo Augusta.
Para aumentar a prática, Flávia, que é figurinista, passa uma tarde por semana na casa da avó, Claudia, 84, bordando. "Foi ela que me ensinou os primeiros pontos." Vanessa, maquiadora, é neta de costureira, mas só se interessou pelo bordado depois de conhecer o livro "Subversive Cross Stitch" (ponto de cruz subversivo). "Achei o máximo ver as receitas com frases e figuras muito diferentes do ponto de cruz tradicional", lembra ela, que se reúne com as amigas e, entre uma taça de vinho e outra, troca dicas.
Como nas jovens tricoteiras o contraste visual entre moderno e antigo é evidente, não raro ele atrai chacotas. Andrea, do blog Superziper, estava tricotando com uma amiga no calçadão de Santos quando ouviu de um ambulante: "Estão treinando para serem avós?". A professora Cristiane já escutou: "Nossa! Tão bonita e tricotando...". Pelo jeito, vai ser difícil combinar tricô e modernidade. E talvez seja exatamente essa a ideia.


Mallu canta e borda
Cantora é adepta da mania
No dia em que terminou de gravar seu terceiro CD, "Pitanga", Mallu Magalhães, 18, estava dando pulinhos de alegria. "Abriram uma nova casa de lã com uns produtos incríveis", disse para uma amiga, ao celular, em pausa na entrevista que concedeu à Folha no dia 30. "Compro muita coisa na Argentina, mas agora ouvi dizer que vão começar a trazer lã de qualidade de lá." As agulhas surgiram na sua vida aos 13 anos, por causa de uma amiga mais velha. "Sou completamente vidrada. Pareço uma velhinha em casa, na minha."
kit básico
Tricô, bordado e crochê têm linhas específicas e acessórios próprios
TRICÔ
AGULHA RETA
A numeração varia conforme o tipo de lã. As mais grossas pedem agulhas acima de 9. Quanto maior o número, maior será a largura do ponto
AGULHA CIRCULAR
Ideal para trabalhos sem costura, como golas. Mas ela também pode ser usada para o tricô aberto, que pede costura no final, como a união de mangas a uma blusa
CONTADOR
O acessório pode ser acoplado à agulha e ajuda nas contas. Quando terminar uma carreira, gire o botão do contador
AGULHA DE ARREMATE
O buraco por onde passa a lã é mais largo do que o das agulhas usadas para pregar botões
ALFINETE
Evita que os pontos escorreguem da agulha em peças maiores como casacos e vestidos
BORDADO
BASTIDOR
Círculo de madeira que serve de suporte para o tecido para mantê-lo bem esticado
AGULHAS
São iguais às de pregar botão. É possível combinar os tamanhos do orifício com as linhas
TESOURINHA
A que tem o formato de garça é um fetiche entre as bordadeiras
TECIDO
No caso do bordado "freestyle", tecidos de algodão ou linho são os mais usados. Para o ponto de cruz, compre o tecido específico, com a trama mais aberta
CROCHÊ
AGULHAS
Têm numeração de 6 a 8. Quanto maior, mais largo será o ponto
Tricô-arte
Obras com linhas e agulhas
Em vez de pincéis e tintas, agulhas, linhas e lãs. A artista Carol Ponte, 30, faz parte da turma que está usando o tricô e o crochê como suporte. "Tinha medo de ser rotulada de mulherzinha, mas resolvi assumir que sou mulher e gosto desse tipo de trabalho", conta ela, que exibiu seus tricôs gigantes na feira SP Arte do ano passado, no estande da galeria Zipper, e tem obras avaliadas em R$ 20 mil. Fora do Brasil, a portuguesa Joana Vasconcelos, com suas instalações, e o norte-americano Daniel Kornrumpf, com retratos bordados que impressionam pela riqueza de detalhes, são outros representantes do tricô-arte.
SERVIÇO - ONDE COMPRAR
Novelaria Knit Café
R. Mourato Coelho, 678, Vila Madalena, zona oeste, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/3729-7188.
Empório das Lãs
R. João Alvares Soares, 1.520, Campo Belo, zona sul, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/5531-3086.
Millefios
R. da Graça, 221/223, Bom Retiro, centro, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/113359-3322.
Companhia do Tricô
R. Pamplona, 1.222, Jardins, zona oeste, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/3887-5614. 

Fotos e vídeo da reportagem, clique aqui.

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